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“Todo dia eu bebo a minha dose diária de racismo”, diz presidente da Cufa, Alzira Nogueira

Anita Flexa


RESISTÊNCIA ALZIRA

Em entrevista para a série Resistência da Rádio, Alzira Nogueira, presidente da Central Única das Favelas (Cufa) no Amapá, destaca a luta das mulheres negras por respeito e espaço na sociedade


À frente da Cufa, Alzira Nogueira reflete sobre conquistas e desafios das mulheres negras na sociedade, destacando luta antirracista e construção de identidade política.


Em entrevista exclusiva para a série Resistência da Rádio, Alzira Nogueira, presidente da Central Única das Favelas (Cufa) no Amapá, compartilha a importância da luta das mulheres negras por respeito e espaço na sociedade. Para Alzira, a busca pela igualdade de gênero e raça é constante e árdua, especialmente em um país ainda dominado pelo machismo e pelo racismo.


“Olha, a minha trajetória pessoal é uma trajetória de uma construção de uma identidade política coletiva. Os indivíduos, eles carregam uma subjetividade, que é uma subjetividade própria, mas essa subjetividade, ela só é construída no encontro com outros, com os outros, com seus pares. Então, assim, o que eu carrego, tanto de consciência, de conhecimento, de memória de luta, é construída dentro do movimento de mulheres negras”, afirma. Ao destacar sua caminhada e a resistência de tantas outras mulheres negras, Alzira reconhece o peso da história e da força herdada de gerações anteriores.

Apesar dos avanços, Alzira pontua que as mulheres negras ainda enfrentam desvalorização, preconceito e desigualdades salariais, que muitas vezes obscurecem suas contribuições e ideias.


“Eu aprendi nessa caminhada, aprendi com as minhas mais velhas, aprendi com aquelas que vieram antes de mim, e nesse sentido eu estou contribuindo nesse processo. Então, eu acho que eu tenho uma trajetória bonita, pessoalmente, para quem tem a origem racial e econômica que eu tenho. Eu acho que na nossa sociedade ocupa uma posição importante. Eu consegui, pela educação, transpor essas barreiras de exclusão e me inserir no mundo do trabalho de uma forma destacada, a caminhada política, que é a escolha que eu faço, a luta da minha existência, a luta antirracista. Esse é o sentido que dá para a minha vida. A minha existência só tem sentido nisso”, diz.

Para Alzira, a educação foi fundamental para ocupar uma posição de destaque, mesmo com o constante desafio de provar seu valor e competência.


A luta de Alzira é marcada pela busca de uma sociedade mais justa para ela e para sua filha, enfrentando diariamente o racismo e os questionamentos que vêm de ser uma mulher negra em uma posição de liderança.


“Todo dia eu bebo a minha dose diária de racismo, porque fora do lugar de evidência, você sempre está sob suspeita, você sempre é olhada de uma forma desqualificada, de uma forma estigmatizada. É por isso, Ninda, que não tem trégua. E a gente fala muito dos reflexos do racismo sobre a saúde mental das mulheres, das mulheres negras, porque a gente tem essa tarefa de estar lutando para garantir a nossa subsistência, a subsistência digna das nossas famílias, quer assembrinho intelectualmente, profissionalmente, mas a gente também está nessa batalha diária contra esse sistema de opressão que nos atinge tanto pela nossa condição, pelo fato de sermos mulheres e pelo fato de sermos negras”, desabafa.

A persistência de Alzira reflete o desejo de um futuro em que mulheres negras possam viver sem o peso da discriminação e do julgamento injusto.


O exemplo de Alzira Nogueira, com cerca de 30 anos de ativismo, inspira outras mulheres a continuar na luta por um mundo mais inclusivo. A resistência diária, que fortalece e une, continua sendo o alicerce da luta antirracista no Amapá e em todo o país, ressignificando o lugar da mulher negra como símbolo de força, conhecimento e transformação social.



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